Meu senhor, minha senhora
Guri e até animal
Vou lhes contar uma história
(Só não façam passar mal)
A Peleja do Diabo Com o Perito Criminal
O fato, pois, sucedeu
Durante uma lua cheia,
Tinha dois corpos no chão;
De Totinha e Zé da Meia,
Os cabra tavam estirados
Chei de formiga e areia.
Logo chegou a puliça,
E isolou o local – Aqui ninguém entra, visse?
Nem Doutor, nem General,
Nós vamos ter que acionar
O Perito Criminal
E agora, o que fazer
Pra resolver o assunto?
Não havia testemunhas
Só a sangria dos defuntos;
Junto de uns cacos de telha
Um revólver e um presunto
Logo, logo, chega um cabra (Pense num bicho esquisito?)
Com uma maleta na mão,
Chei de régua e gabarito,
Foi tirando um mói de foto,
O danado do perito.
Foi pra lá, foi pra cá,
Sobe aqui, baixa acolá,
Sai coletando vestígios
Pra depois examinar.
De repente chega o diabo
E começa a atazanar:
- Peritinho, meu amigo, Aqui'stou pra te ajudar...
Vou te dizer o que houve,
Antes dos dois se matar,
Pois mal chegaram no inferno,
Foram logo me contar.
- Cão tinhoso dos infernos,
É melhor deixar de treta,
Porque a ciência que uso
Não tem parte com o capeta,
Vou desvendar esse causo
Sem sequer fazer careta!
O diabo logo emendou:
- Foi Tota que matou Zé!
Deu um tiro no finado
E, no mei do rodapé,
Zé revidou com uma telha
E deixou Tota lelé.
O Perito deu risada
E respondeu ao tinhoso:
- Deixe de ser idiota,
Criativo e venenoso
Pois ninguém matou ninguém,
Seu pé-de-cabra asqueroso!
- O coitado Zé da Meia,
Pela cachaça que exala,
Morreu foi tomando pinga,
Num tem nem furo de bala,
Foi pedaço de presunto
Que entalou durante a fala.
Já o infeliz do Totinha
Morreu, pois foi ajudar
O finado do entalado;
Bem na hora e no lugar,
Cai-lhe uma telha na testa,
Do telhado a despencar.
Coisa Ruim ficou logo mofino
E disparou pro perito:
- Quem diabo é você? Mas será o bendito?
Pois bastou examinar
Que chegou ao veredito!
E o Perito respondeu:
- Eu estudei para tal;
Meu trabalho é examinar
Droga, papel, animal,
Obra, defunto ou batida,
Caso seja criminal.
Eu trabalho com a ciência,
Lógica ou Engenharia,
Contabilidade, Física, Química ou Biologia;
Não me baseio em boato
Nem tampouco em bruxaria!
Vá de retro, satanás!
Termina a conversa aqui,
Eu trabalho pra Justiça,
Para a verdade surgir,
Não vou deixar um chifrudo
No meu trabalho bulir!
Autor: José Alysson D. M. Medeiros
Cordelistas: José Francisco Borges e José Costa Leite
Xilogravuras: Erick Lima
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