Toda especialidade médica tem peculiaridades. Por exemplo, os neurologistas costumam ser facilmente identificados pelo alfinete encontrado na lapela de seus casacos brancos (usado para testar a sensibilidade dos pacientes). Portanto se você encontrar um grupo de pessoas aglomerado na frente da obra de arte mostrada nessa foto, provavelmente eles serão patologistas!
A imagem da obra, chamada de “A gestante preservada”, faz parte da exposição "Body Worlds" do Dr. Gunther von Hagen. De acordo com seu painel informativo, a mulher contraiu uma doença fatal durante a gravidez, e ela mesma deu a permissão para que seu corpo fosse plastinado (leia abaixo sobre a técnica), e exposto após sua morte.
A história médica dela é envolta em mistério, pois não há informações sobre qual condição patológica causou sua morte. E é exatamente isso que a torna tão intrigante para um patologista. Uma das piores coisas que você pode fazer com esse profissional é oferecer um diagnóstico vago ou parcial. É como dizer, por exemplo, que alguém morreu de "câncer". Imediatamente ele questionará:
Que tipo?
Qual estágio?
Quando foi diagnosticado?
Nesse caso, especificamente, podem ser feitos questionamentos ainda mais peculiares quanto a doença:
A) Embora fatal, ela pôde ser diagnosticada com antecedência suficiente para as permissões / providências a serem tomadas para que a mulher fosse plastinada.
B) O que impediu que a mulher em questão tivesse seu bebê no terceiro trimestre com segurança? Visto que a informação dizia que a doença era da mãe e, pela preservação do bebê, aparentemente, ele estava perfeito.
Esse é apenas um dos casos interessantes apresentados na exposição. A mostra conta com 25 cadáveres dissecados e 175 órgãos humanos, e foi descrita como "fascinante" por alguns visitantes, e de "vergonhosa" por outros.
Body Worlds (em alemão, Körperwelten, literalmente "Mundos dos corpos") é uma exposição itinerante que exibe corpos humanos, ou partes deles, preservados e preparados com a técnica de plastinação. Seu criador e promotor, inventou a técnica nos anos 70, na Universidade de Heidelberg.
Esse processo consiste em esfolar as partes do corpo e preservá-las com uma resina sintética. O plástico líquido endurece, deixando os tecidos intactos, permitindo que os corpos sejam exibidos em sua cor natural e sem formaldeído, o que também bloqueia o cheiro.
O doutor Gunther von Hagen, que foi apelidado de "Dr. Morte”, por popularizar a preservação e exibição de cadáveres como obras de arte, está sofrendo com o mal de Parkinson, e pediu para também se tornar parte da exposição após sua morte.
Inicialmente, a esposa e parceira de Von Hagen, Dra. Angelina Whalley, disse ao jornal “The Observer”, que ficou chocada com o pedido do marido, mas enfim, concordou.
Diariamente ele recebe ofertas de pessoas que gostariam de doar seus corpos, e diz estar em contato com dez jovens portadores de doenças terminais que, assim como ele, almejam ter seus corpos expostos. "Eles sabem que só tem mais um ano de vida, e acham que o fato de serem enterrados é um desperdício. Por isso, eles desejam doar os seus corpos. É um presente", afirmou Von Hagen.
A mostra já foi vista por 8 milhões de pessoas em países como Inglaterra, Japão e Alemanha. No Brasil houve uma mostra semelhante, chamada “Maravilhas do Corpo Humano” que, apesar de utilizar a mesma técnica de preservação, não é do mesmo autor.
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